segunda-feira, 18 de abril de 2011

Crise nuclear - Na espera de medidas adequadas em relação às crianças II

Política Nuclear que não aprendeu com Hiroshima, Nagasaki e Chernobyl – Na espera de medidas adequadas em relação às crianças II


Cont. do artigo da Dra. Moriyo Kimura  Médica/Oficial técnico do Sistema Médico no Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-estar. Atualmente Oficial de Quarentena. Mãe de filhos gêmeos.

Cont...

Então vejamos agora, qual o impaco do Césio 137 em crianças.
O Césio 137 é muito mais perigoso do que o Iodo 131.
Pois o Iodo 131 é eliminado do corpo num período relativamente curto, enquanto que o Césio 137 permanece por um longo período dentro do corpo.

A desintegração radioativa de um material radioativo acontece com o passar do tempo, e o que se torna uma indicação é o período de semidesintegração* ou período de meia-vida.
O período de semidesintegração do Iodo são 8 dias, enquanto que o do Césio 137 são 30 anos.

*Período de semidesintegração é o tempo necessário para que metade do número de átomos de determinada substância radioativa se desintegre. Assim, a cada período de meia–vida, o nº de átomos radioativos cai pela metade.

Diferente do Iodo 131, a maior parte do Césio 137 entra no organismo através do aparelho respiratório como a boca e o nariz. E não atinge somente a tireóide, mas se espalha uniformemente em todos os órgãos do corpo. Além de acumular principalmente no fígado, rins, músculo (princ.músculo cardíaco).
A quantidade de Césio 137 emitido em acidentes nucleares é bem menor comparados à outros tipos de materiais radioativos, mas os danos à saúde são grandes, pelo fato de permanecerem no organismo por um longo período, diferente do Iodo 131 que tem o período de semidesintegração de 8 dias.
Permanecer por um longo período no corpo significa que aumenta o risco de causar câncer.
Há quem diga que “o Césio 137 não tem haver com a carcinogênese”
Mas isso é devido ao fato de que num acidente nuclear são liberados muitos tipos de materiais radioativos, o que dificulta a determinação de qual destes materiais radioativos é o causador.

Certamente, não está provado o relacionamento de algum câncer em particular com o Césio 137, assim como está provado que o Iodo 131 causa o câncer da tireóide.
Mas se todos os materiais radioativos causam danos no DNA, seria normal pensar que “podem causar o câncer”.

Comparando-se com os adultos, crianças tem mais oportunidades de brincar ao ar livre, pode-se dizer então, que as crianças tem mais possibilidades de inalar o Césio que está no ar ou na poeiras.
Além disso, considerando-se que o Césio 137 se dilui fácilmente na água, as crianças que tendem a consumir mais água do que os adultos, proporcionalmente, tomará mais Césio 137.

E mais ainda, há relatos de que (o Césio 137) passa para criança, através do leite materno.
Na pesquisa realizada com recém-nascidos e crianças de 1 ano, foi reportado que com a probabilidade de  40 a 50% passam pelo leite materno. Este resultado comparado aos 25% do Iodo 131, é um número relativamente  alto.Em testes feitos em animais, estão comprovados que há transição para o feto, através da placenta.
Referências: Agência de registro de enfermidades por substâncias tóxicas: Césio (The Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR))

Os chamados de peritos e o Governo dizem que “não há efeito imediato (sobre a saúde)”.
Ao fundo, existe o fato de que não há estudo sobre a radiação nociva, a médio e longo prazo.
Porém, é evidente que o material radioativo permanece no organismo por um determinado tempo.
E que com isso, vai danificando o gene.

Os que sofrem maiores impactos, são os recém-nascidos, os lactentes e o bebê que está na barriga.
 
Se o argumento é que de que o grau de risco é incerto, acho que temos que presumir a pior das hipóteses.
Frisei várias vezes em artigos anteriores, que “Agir pensando na pior das hipóteses, é o fundamental na Gestão de Crises”.

É necessário proteger as crianças que são o futuro do Japão.
Podemos dizer que a responsabilidade é nossa, dos adultos.
Para isso, creio que seja indispensável a tomada de decisões drásticas como a evacuação das crianças e grávidas para um lugar seguro, fora do raio de 30 Km e não tomar uma decisão ambígua como “Abrigo em lugares cobertos” como está atualmente.

Mais uma coisa que não pode ser esquecido, é o acompanhamento das crianças que foram expostas à radiação.
E não há mais nada, além de fazer estudos epidemiológicos a longo prazo, como que tipo de doença poderá surgir, a que latência etc.
No entanto, ainda não se ouve nada a respeito de terem iniciado este tipo de pesquisa.
E, mesmo no caso de registro de câncer, infelizmente, só é efetuado individualmente pelas províncias ( e há algumas que nem registram).
Para se efetuar um acompanhamento adequado, será necessária uma estrutura para acompanhar a pessoa onde quer que a pessoa vá morar. Estrutura essa, que ainda não existe.

Este desastre nuclear é um acontecimento infeliz.
Mas é extremamente importante esclarecer o que houve neste desastre e fazer o estudo do que poderá ocorrer futuramente e divulgar sobre o assunto, em prol das futuras indenizações de pacientes e também para o desenvolvimento da energia nuclear no Mundo.

Pode-se dizer que, deixar dados corretos para o futuro faz parte da Gestão de Crises.
Desejo que o Governo e os estudiosos tomem medidas rápidas para proteger a geração futura e também, para não desperdiças as vidas que foram perdidas.

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Enquanto traduzia, estava ouvindo a transmissão da Assembléia Nacional...
Numa hora de crise como esta, ainda há alguns parlamentares  preocupados em culpar ou querer as desculpas do primeiro ministro, sobre as medidas tomadas no início, algumas querendo induzir o primeiro ministro a declarar o fechamento imediado das usinas nucleares...
Porque ao invés de se unirem e discutirem sobre o "montão" de problemas a resolver, eles querem acusar, puxar a perna um do outro... Que coisa feia! 

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