terça-feira, 24 de maio de 2011

Japão - Comité de Supervisão do Governo Câmara dos Conselheiros - 1

Como um memo do que vem acontecendo ultimamente no Japão, taduzi aqui, parte da explanação das testemunhas que foram chamados a depor no último dia  23/05 na Câmara dos Conselheiros - Comité de Supervisão do Governo. Onde foram realizados os debates sobre:
[Monitoramento do governo, avaliação e investigação de denúncias contra a administração pública (Sobre a existência de um Sistema de monitoramento do governo e o desastre nuclear) ] .

As Testemunhas convocadas pelo Comité de Supervisão do Governo foram: 
Hiroaki Koide - Professor Adjunto da Instituto de Pesquisa do Reator Nuclear, Universidade de Kyoto.
Masashi Gotou - Docente do Instituto de Tecnologia de Shibaura.
Katsuhiko Ishibashi  - Professor Emérito da Universidade de Kobe.       
Masayoshi Son - CEO da Softbank        
---------
Pronunciamento do Prof. Koide:
   Eu segui os estudos na Engenharia Nuclear porque tinha sonhos em relação à energia atômica, mas no decorrer dos estudos e pesquisas, percebi como a energia nuclear é um recurso pobre. Em termos de recursos não regeneráveis, temos o carvão que tem a maior reserva, o gás natural, petróleo, areias betuminosas e etc., se pudéssemos utilizar ao máximo a reserva de carvão, poderíamos usá-lo por até 800 anos. Pensei que a energia nuclear poderia substituir os combustíveis fosseis que logo iriam se esgotar, mas ao comparar as reservas, a reserva do urânio não passa de 10% do carvão.  
   Os pro-energia nuclear dizem que não estão interessados no Uránio físseis mas sim, interessados no Plutônio! Ou seja, querem utilizar o Uránio fissionável transformando-o em Plutônio para gerar energia. De qualquer forma, precisam explorar o Uránio, que serão enriquecidos através do seu processamento, queimados no reator nuclear e que numa determinada fase são transformados em Plutônio que servirá como energia nuclear.
   Com esta concepção, os pró-energia nuclear querem construir Reatores nucleares do tipo [Reator Reprodutor Rápido (Fast Breeder Reactor)] é lá reproduzir rápidamente o Pu para usar como energia, que posteriormente será reciclado para continuar usando como fonte de energia. No final das contas será gerado o lixo nuclear altamente nocivo que terão que ser eliminados de alguma forma, futuramente.
   A realidade é que o plano de construção do  [Reator Reprodutor Rápido (Fast Breeder Reactor)] foi se desmoronando, e vou explicar o porquê. De acordo com o Plano, a contrução do Reator Reprodutor Rápido seria realizado nos anos 80, mas não conseguiram. Adiaram para 1990, que cinco anos depois foi replanejado e adiado para o ano de 2000, posteriormente adiado para 2010 com meta de concretização e depois veio a meta de que querem estabelecer o sistema tecnológico na década de 2020, adiando no final das contas até 2050. Em suma, a meta de 10 anos futuros são adiados por sua vez por mais 20 anos e assim sucessivamente, sem que os responsáveis por este projeto sejam responsabilizados por este fracasso.
   Eu acho que o mundo de energia nuclear é um mundo anormal que despeja muito dinheiro, é tanto dinheiro que, se na legislação atual uma pessoa que comete um fraude de 1 bilhão de ienes tem que cumprir 1 ano de prisão, os responsáveis pela Central Nuclear de Monju – supondo-se que sejam 100 pessoas – cada um deles teriam que cumprir a pena de pelo menos 100 anos de prisão. Mas até o momento ninguém foi responsabilizado por esta situação.
   Em relação ao acidente em Fukushima, como já devem saber uma usina nuclear trabalha com uma grande quantidade de radioatividade. Em Hiroshima por exemplo, foram queimados 800g de Uránio que queimou práticamente a cidade inteira. Numa usina nuclear funcionando durante 1 ano, queima 1 tonelada de Uránio. Isto é, uma usina nuclear funciona utilizando toda essa quantidade de material radioativo ou material físsil gerando mais materiais radioativos.
   Uma usina é uma máquina, que é vulnerável à defeitos. É mais do que normal haver problemas no seu funcionamento. Mas o que os pró-nucleares fizeram para prevenir contra um eventual acidente? Eles disseram que difícilmente acontecem acidentes catastróficos e por isso é uma incoerência considerar uma hipótese dessa natureza. Simplesmente desconsideraram e puzeram de lado dizendo que era um pressuposto impróprio.
   A justificativa de que não acontecem acidentes catasfróficos, tirados da HP da  Chubu Electric Power (vide os mecanismo para selar o material radioativo em inglês )  é porque existem barreiras múltiplas para evitar o vazamento do material radioativo. Dentre estas barreiras, a mais importante seria a 4ª barreira que é contenção do reator que é um imenso recipiente de aço que manterá o material radioativo confinado em quaisquer situação. Isto é, por ter sido presumido que uma conteção nunca seria danificado, consequentemente a hipótese de um acidente catastrófico foi julgado impróprio. No entanto, aconteceu e continua em progresso ainda. E as medidas tomadas pelo governo vem sendo inapropriados.
   Os fundamentos de Prevenção é superestimar, é imaginar a pior das hipóteses, é superestimar para preparar as contramedidas e proteger a população.  Se não acontecer o pior, pelo menos poderão dizer que não pôs a população em risco. Mas o que o governo vem fazendo até agora é subestimar o acidente, tomando atitudes com visões otimistas.   
   Inicialmente, o nível do acidente pela avaliação internacional de acidentes era nível 4, sem mudar por um longo tempo, e depois de muito tempo, aumentou de uma vez para o nível 7.
   A mesma coisa pode ser dito em relação à evacuação dos moradores da região adjacente. Evacuaram priemiramente os moradores do raio de 3 km e alegaram que eram medidas de segurança “para qualquer eventualidade”, depois ampliaram para 10 km alegando o mesmo, depois aumentaram para 20, 30...
    Na minha concepção, a única forma de evitar o pânico é divulgar a informação correta para obter a confiança do povo. O que o governo japonês não tem feito. Sempre escondem as informações e as condições críticas. Até mesmo o SPEEDI* foi omitido, não divulgando aos moradores. Além disso, aumentaram o nível admissível de radiação dos trabalhadores sem ao menos esclarecer de quem é a responsabilidade e está impondo risco aos trabalhadores que estão lá batalhando. O governo aumentou também o nível em relação aos moradores da região.
   Fico perplexo só em imaginar a grandesa dos danos causado por este acidente. Isto porque que fossem aplicados as Leis vigentes, talvez houvesse necessidade de abrir mão de toda a região de Fukushima. Para evitar isto, não havia outra opção a não ser aumentar o nível admissível de radiação dos moradores para que eles possam continuar morando lá. Um duro golpe para a agricultura e a pesca, além da vida dos moradores que tendem a ser destruídos ao perderem a sua terra natal. Pos mais que a Tepco indenize, não será suficiente nunca. A Tepco poderá falir por várias vezes mas nãp conseguirá indenizar tudo. Talvez nem que o próprio país vá a falência, conseguirá indenizar tudo, se é que realmente pretendem indenizar tudo.
   Finalizo citando os 7 pecados sociais, segundo o Gandhi. As paçavras estão lapidados no túmulo dele.
Peço aos senhores que estão aqui, que são políticos, que reflitam sobre a 1ª palavra.
        1. Política sem princípios
       2. Riqueza sem trabalho
       3. Prazer sem consciência
       4. Conhecimento sem caráter
       5. Comércio sem moralidade
       6. Ciência sem humanidade
       7. Colaboração sem sacrifício
A palavra se encaixam à Tepco e demais empresas similares, o 6ª ao mundo acadêmicos a que estou incluído, cientistas que estiveram totalmente empenhados na potência nuclear, e o último,  àqueles que tem as suas crenças religiosas.
---------------------------------
Este debate não foi transmitido pela TV,  a transmissão foi feita pela USTREAM e aqui está a primeira parte da gravação em japonês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário